Seja Bem Vindo!!

"Um olhar moderno enxerga o meio ambiente com oportunidade, jamais como problema"


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Água tratada não garante a saúde da população

A necessidade de fornecer água com quantidade e qualidade adequadas, e ao mesmo tempo recolher e tratar os dejetos humanos é conseqüência do processo de urbanização e do adensamento humano. A urbanização tem o duplo papel de permitir um maior acesso a diversos serviços públicos e, simultaneamente, promover um aumento de interações entre agentes infecciosos e populações, aumentando o risco à saúde de pessoas sem estes serviços.
É importante refletir e tentar buscar soluções e planos de ação para melhorar a
qualidade da água consumida, uma vez que se esta não for adequada poderá ocasionar graves danos à saúde. Água contaminada pode transmitir doenças como diarréia, hepatite A, dengue, cólera e esquistossomose, entre outras.
O documento “Água e Saúde” da OPAS de 2001 traz alguns números alarmantes.
Aponta que 80% de todas as doenças e pelo menos um terço das mortes nos países em desenvolvimento estão associadas à falta de qualidade da água. Esta informação, ao mesmo tempo em que evidencia a gravidade do problema da falta de saneamento, desvia o foco das ações, concentrando o problema no acesso ao abastecimento de água.
De fato, a maior parte dos relatórios sobre a situação do saneamento, inclusive no
País, é baseada em indicadores como a cobertura da rede de água e coleta de esgoto, sem considerar indicadores epidemiológicos ou sócio-econômicos. Não basta coletar o esgoto. Ele deve ser tratado antes de voltar para a Natureza, pois pode poluir fontes de água pura. No Brasil é, no mínimo, contraditório que se observe um aumento da cobertura dos serviços de abastecimento de água, que alcança hoje 91,3% da população urbana, segundo dados da PNAD de 2002, mas que ao mesmo tempo sejam tão freqüentes as doenças de veiculação hídrica.
Outros indicadores devem ser considerados para analisar a situação do saneamento dentro do quadro de complexidade existente hoje nas cidades e no meio rural. Nesta perspectiva, encontra-se a vigilância ambiental em saúde, que é apoiada no controle de fontes ambientais de risco, da exposição e dos efeitos adversos sobre saúde. Uma das tarefas primordiais para o estudo da relação entre ambiente e saúde é a seleção de indicadores para esses níveis de manifestação dos problemas ambientais. Estes componentes devem ser combinados para se definir uma estratégia eficaz para a prevenção ou pelo menos a redução do impacto dos problemas ambientais.
A construção desses indicadores depende de um conjunto de sistemas de informações, como meios que permitem a coleta, o armazenamento, o processamento e a recuperação de dados. Nesse sentido, atualmente, a construção desse sistema de indicadores está centrada, na avaliação da qualidade de vida tanto na sua dimensão ambiental como social.
No Brasil, a maior parte da população urbana vem obtendo acesso à água por
meio da expansão de redes de abastecimento, sem que seja promovida a coleta e
tratamento de esgoto e lixo. A combinação entre a universalização do acesso a
rede de abastecimento de água e a crescente vulnerabilidade das fontes superficiais e subterrâneas de água pode, em vez de proteger a população, magnificar os riscos à saúde por meio da ampliação da população exposta a agentes químicos e biológicos.
A proteção à saúde é colocada invariavelmente como uma das conseqüências benéficas do saneamento. A demonstração epidemiológica desta relação é, no entanto, de difícil verificação, devido ao grande número de variáveis envolvidas no processo de determinação das doenças. Para a Organização Mundial de Saúde(OMS) todas as pessoas, em quaisquer estágios de desenvolvimento e condições sócio-econômicas, têm o direito de ter acesso a um suprimento adequado de água potável e segura. A OMS define como “segura” a água que não represente um risco significativo à saúde. Neste contexto, na medida em que o intuito de todos os governos é melhorar a qualidade da saúde pública, torna-se imprescindível que tais condições sejam levadas em consideração para o estabelecimento e a manutenção dos programas de qualidade de água e seu abastecimento.
Segundo informações do relatório “Situação Global de Suprimento de Água e Saneamento” de 2000, elaborado pela OMS em conjunto com a Unicef, mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo não têm condições aceitáveis de saneamento e outro 1,1 bilhão não tem acesso a um abastecimento de água adequado. Ainda segundo este relatório, nos países em desenvolvimento esta situação também ocorre – ou seja, aproximadamente um quarto dos 4,8 bilhões de pessoas do mundo não dispõem de acesso a fontes adequadas de água.
A água é uma necessidade básica da humanidade. Sua contaminação ou escassez comprometem a existência humana. Saneamento básico, abastecimento de água,esgotamento sanitário e coleta de lixo são direitos dos cidadãos e itens imprescindíveis para a qualidade de vida.

*Christovam Barcellos é geógrafo formado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz. Atua na pesquisa e ensino de Geografia da Saúde com ênfase em Vigilância em saúde.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Sua empresa evita desperdícios?

Alguns pesquisadores avaliam que o problema da escassez de água é mais urgente que o do aquecimento global. Hoje, cerca de 700 milhões de pessoas em 43 países sofrem com a falta d'água. Em 2025, poderão ser 3 bilhões, segundo dados da ONU. Como isso pode afetar as empresas? "A indústria é a primeira a sentir a falta d'água, porque a lei determina que a população tenha sempre a prioridade", diz Paulo Canedo, chefe do Laboratório de Hidrologia da Coppe/UFRJ. Uma fábrica da Coca-Cola inaugurada em 2000 na Índia chegou a ser temporariamente fechada sob acusações de ter provocado a seca nos poços da região. A companhia ainda sofreu represálias de pelo menos dez universidades americanas, que a baniram de seus campi.
Poucas empresas necessitam tanto de água no seu negócio quanto a AmBev, a maior produtora de cerveja da América Latina. Do conteúdo de cada garrafa, 95% é de H2O. A questão da escassez, é natural, tornou-se central na companhia. Em 2006, depois de dez anos de projetos destinados a reduzir o consumo, a fábrica de cervejas de Curitiba, uma das 30 unidades da AmBev, marcou um recorde de 3,49 litros de água usados para cada litro de cerveja produzido, um índice inferior ao que é considerado o índice de excelência no mundo, de 3,75 litros. A média de consumo de todas as fábricas ainda não atingiu esse padrão - está em 4,3 litros. Mas, cinco anos atrás, a proporção era 30% maior. "Somente fazendo esse trabalho poderemos garantir a sobrevivência do nosso negócio", diz Milton Seligman, diretor para assuntos corporativos da empresa.
O empenho ambientalista pode ser visto na fábrica de Jaguariúna, a terceira maior da empresa no Brasil, a 131 quilômetros de São Paulo. Antes de se chegar a ela, lê-se na estrada uma placa anunciando o início do chamado "Circuito das Águas", um grupo de oito municípios na Serra da Mantiqueira visitado por paulistanos que gostam de descer rios em botes infláveis. O site de turismo da região avisa que as águas de lá são "conhecidas internacionalmente por seus poderes de cura". São tantas fontes, rios e riachos que esse seria um dos últimos lugares onde se esperaria encontrar pessoas preocupadas com escassez de recursos hídricos. O sanitarista ambiental Márcio Maran é uma delas. Gerente de meio ambiente da AmBev, ele percorre as instalações todas as semanas em busca de alguma oportunidade de redução do índice de consumo. A batalha agora está nos detalhes, porque o grosso já foi feito.

Em 2004, a empresa deu o grande salto, ao instalar um sistema para reaproveitar a água quente que era usada na pasteurização das bebidas, antigamente descartada. Outra medida, no mesmo ano, foi alterar a mastodôntica máquina que lava as garrafas. Os bicos que jogam um jato d'água dentro de cada uma delas funcionavam ininterruptamente. Bastou criar um sistema para que eles fossem desligados entre uma garrafa e outra e o consumo caiu 38%.
Na questão da água, porém, não se atinge patamares de excelência só com tecnologia. "O envolvimento das pessoas é o ponto-chave", diz Beatriz Oliveira, gerente corporativa de meio ambiente da AmBev. Todos os funcionários passam por treinamento sobre questões ambientais. Dessa atenção de quem trabalha no dia-a-dia da operação surgiram práticas como a reutilização da água de lavagem de garrafas para a limpeza dos engradados. Quando uma experiência dá certo, ela entra no documento "Mandamentos da Água", cumprido por todas as unidades. O engajamento dos empregados é reforçado pelo estabelecimento de metas que valem para todos. Quando uma fábrica consegue cumprir 100% dos objetivos, a turma pode ganhar até seis ou sete salários de bonificação.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Por que conservar a natureza afinal?

Até hoje, a meu ver, o cinema só produziu uma obra prima sobre conservação da natureza. Acho que o único filme que já vi que merece este título é um dos mais despretensiosos, mas ao mesmo tempo um dos mais puros e mais sinceros: Dersu Uzala.

Dersu Uzala é um dos filmes menos conhecidos do grande cineasta japonês Akira Kurosawa, falecido há alguns anos. Fez até bastante sucesso quando foi lançado, em 1975, mas depois disso pouca gente ouviu falar dele. O filme conta a história da amizade entre duas pessoas imensamente diferentes: um cartógrafo russo, urbanóide, Arseniev, e um caçador siberiano, que é o tal Dersu. Arseniev lidera uma expedição cartográfica à Sibéria, no início do século XX, e contrata Dersu como seu guia pelas vastidões geladas. Dersu Uzala é um filme lento, com pouca ação, que pode parecer impalatável para alguns cinéfilos acostumados ao ritmo vertiginoso das produções hollywoodianas. Mas vale a pena garimpar as sutilezas com carinho, porque sua paciência será regiamente recompensada: essa majestosa obra prima tem várias cenas antológicas. Um dos maiores pequenos tesouros é a cena da fogueira.

Arseniev, Dersu e os soldados da expedição do primeiro estão em volta do fogo, à noite, comendo um animal recém abatido. De repente, um soldado pega um grande naco de carne e o joga no fogo. Para surpresa geral, o idoso Dersu pula, coloca a mão nas chamas e tira a carne do fogo. O soldado fica perplexo, e segue-se um diálogo mais ou menos assim: “Por que você fez isso? Você podia se queimar!” Dersu responde: “Por que você quer jogar essa carne no fogo? Outra gente vai chegar depois de nós e vai querer comer.” O soldado retruca: “Você está maluco? Nós estamos no meio da Sibéria! Não tem gente nenhuma aqui!” Isto era em 1907, não se esqueça. Mas Dersu então diz, irritado: “A floresta tem muitas gentes”. Para Arseniev, assistindo à discussão à distância, subitamente a ficha cai: sua sutil expressão desconcertada é inesquecível. Ele nem precisaria esperar Dersu completar: “Pode vir um rato, um texugo ou uma gralha, porque você vai jogar a carne no fogo?” O soldado olha ainda sem entender.

A cena da fogueira de Dersu Uzala é inesquecível, entre outras coisas, pelo claro foco de Dersu em conservação, muito além do ambientalismo: pode ser que nenhuma gente de nossa espécie venha, mas nem por isso as outras espécies não merecem sua consideração.

Por que conservar os animais e as plantas afinal? Podem ser apresentadas uma série de razões para isso. Uma das mais ouvidas é que as espécies são fontes de produtos úteis para a humanidade. Em alguma espécie de planta pode estar a cura do câncer, outra poderá fornecer o princípio ativo de algum cosmético fabuloso, ou genes que podem, quem sabe, ser transplantados para outra espécie com efeitos favoráveis. Esse argumento parece à primeira vista fazer bastante sentido. Porém, como bem apontado na revista científica Oikos pelo grande ecólogo inglês John Lawton em 1991, se queremos conservar a biodiversidade, ou pelo menos uma parte expressiva dela, esse é um argumento enganoso, e pode chegar a ser perigoso. Nem todas as espécies são úteis. Para começo de conversa, a maioria das espécies animais são besouros. Há imensa redundância em qualquer grande grupo animal ou vegetal, na bioquímica como em qualquer outra coisa. Muitas espécies são distinguíveis de suas parentes mais próximas apenas por ínfimas sutilezas em suas colorações, suas genitálias ou mesmo seu comportamento, sutilezas essas que só um especialista com anos de treino é capaz de perceber. Isso acontece porque na evolução o processo de especiação (formação de espécies) se dá por isolamento reprodutivo – uma espécie não mais cruzar fertilmente com a outra – e não por quantidade de diferenças entre as espécies. Sendo assim, muitas espécies têm genótipos muito similares ao de espécies próximas, e se desaparecessem, não estariam nos privando de substâncias particularmente diferentes ou valiosas. Provavelmente, embora muitas espécies sejam ou possam ser diretamente úteis ao homem, a maioria não o é.

O mesmo, claro, pode ser dito das utilidades mais óbvias das espécies, para agricultura, pecuária e extrativismo. As espécies adequadas para exploração por essas maneiras são uma ínfima proporção das espécies existentes. O maior problema com esse padrão é que os inimigos da conservação podem facilmente apontar isso e contra-argumentar que, pelo argumento básico da utilidade, a grande maioria das espécies não precisam ser protegidas. Não podemos, portanto, depender desse tipo de argumento.

É verdade que o argumento da utilidade das espécies tem uma versão aperfeiçoada que diz que algumas espécies são úteis afinal, não sabemos quais são ou não, e nessa situação é melhor conservarmos todas elas, ou pelo menos quantas pudermos. Colocado dessa forma, é um argumento bem mais respeitável, mais difícil de rebater, e portanto mais efetivo. Mesmo assim, não me parece que seja suficiente. Afinal de contas, redundâncias continuam existindo na natureza, e as ciências biológicas tem deixado cada vez mais claro onde elas estão. Sendo assim, depender do argumento de que temos que conservar todas as espécies por que não sabemos quais são úteis no fundo é apostar contra o progresso da ciência e do conhecimento. Longe de mim fazer esta aposta. Há, porém, algo que me desagrada mais fundo nas abordagens utilitaristas, mesmo nessa forma mais aperfeiçoada. Esse algo foi expresso com brilhantismo pelo próprio Lawton: “o argumento de que precisamos conservar espécies porque elas podem ser úteis é um argumento ao qual falta alma. É sensato, é verdadeiro, mas não tem espírito, não tem dimensão humana. É o argumento dos tecnocratas...” Cortei pelo meio a citação, desculpe, mas vou me redimir mais abaixo.

Pode ser até então que argumentos estreitamente utilitários sejam úteis, em determinados fóruns, para convencer os tecnocratas. Mas não me considero um tecnocrata, e se você também não for, precisamos continuar nossa procura, indo bem mais fundo – ou quem sabe, mais atrás no tempo.

Me lembro bem de quando aprendi história. Era uma de minhas matérias favoritas na escola e não tenho vergonha de confessar que esperava ansiosamente pelas aulas – que eram muito boas. Mas não me lembro de ter ouvido falar naquelas aulas, nem uma só fez, do efeito da degradação ambiental sobre a trajetória das civilizações humanas. A história, como era pesquisada e ensinada, era completamente cega a isso. Essa situação tem mudado completamente nas últimas décadas, e talvez o maior marco desta mudança até agora seja o maravilhoso e perturbador “Colapso”, de Jared Diamond, lançado em 2005. Se Diamond estiver certo – e seus argumentos são muito convincentes – várias das grandes civilizações do passado entraram em decadência e eventualmente colapsaram por causa de sua incapacidade de manejar adequadamente seus recursos naturais, ou mais precisamente de manter os processos ecológicos que geravam tais recursos. Ou seja, a manutenção da qualidade da água, fertilidade do solo, proteção contra erosão e regulação climática, entre outros, são serviços cruciais que os sistemas ecológicos nos prestam. Todas as nossas civilizações dependem disso, e cuidar bem ou mal dos processos ecológicos tem sido um dos grandes determinantes de que civilizações deram certo ou não. Só isso, e tudo isso. Conservar a natureza por essa razão não deixa de ser até certo ponto uma visão utilitária, mas a meu ver essa necessidade de conservar os processos ecológicos é um argumento infinitamente mais poderoso para a conservação da biodiversidade do que a mera utilidade de cada espécie como fonte de produtos.

Nos últimos anos, com os efeitos cada vez mais óbvios das mudanças climáticas globais, destruindo os delicados mecanismos regulatórios dos processos ecológicos vitais para a biosfera, a sombra do passado se torna cada vez mais inquietante, agora na escala do planeta inteiro. Nosso futuro depende cada vez mais da manutenção dos processos ecológicos. No entanto, sejamos sinceros: esse argumento não explica por que muitos de nós fazemos conservação.

Se você perguntar a um(a) conservacionista porque ele (ou ela) defende os animais, é provável que a resposta seja algo como, “porque eu gosto de bichos” (ou de plantas, conforme o caso). Eu me lembro de um debate onde vi José Truda, do Projeto Baleia Franca, depois de tentar longamente argumentar porque era importante preservar as baleias, explodir dizendo “Quer saber duma coisa? Eu não tenho que justificar por que eu quero conservar baleias, eu quero conservar baleias por que eu gosto de baleias!” Esse é o argumento sincero, verdadeiro, que vem da alma. Pode, é claro, ser um argumento bastante fraco se o virmos como uma idiossincrasia, como um capricho meramente individual. Mas não creio que seja o caso. Quero, ao invés disso, argumentar que nós gostamos de animais porque somos um, e que aí pode estar a resposta que procuramos.

Uma idéia profundamente revolucionária, proposta por Edward Wilson em 1994, é a da biofilia. A idéia central da biofilia é que gostar da natureza é um dos instintos fundamentais do ser humano. Em uma imensa variedade de outros animais, é comum o processo que os ecólogos chamam de “seleção de habitat”. Os animais são encontrados nos habitats favoráveis a eles porque tem instintos, evoluídos por seleção natural, para reconhecer tais habitats, nos quais evoluíram. O homem é uma espécie biológica, cujo comportamento é influenciado pela cultura adquirida nos últimos poucos milhares de anos, mas também, estejamos habituados a pensar nisso ou não, por instintos evoluídos ao longo de milhões de anos. Por isso, o homem tende a se sentir bem quando está em habitats similares àqueles em que evoluiu – o que explica porque, independente da cultura, gostamos de ir para áreas naturais para nossa recreação. Um dos exemplos mais maravilhosos de Wilson é quando ele se pergunta que tipo de habitat os paisagistas quase invariavelmente planejam, quando se dá a eles absoluta liberdade de criação. O resultado –freqüentemente visto em parques urbanos, campi universitários e condomínios - é uma paisagem com vastos espaços abertos, com o solo coberto de gramíneas, intercalados com pequenos bosques aqui e ali. Isso, Wilson alega, é uma reconstrução de uma savana – o habitat onde nossa espécie evoluiu. Similarmente, nós tendemos a gostar de animais, e de modo geral mais intensamente de animais mais parecidos conosco. Isso aconteceria por que instintivamente reconhecemos – com toda razão, de um ponto-de-vista evolutivo – que são próximos de nós.

Se Wilson está certo, ninguém precisa aprender a gostar de bichos: todos nós já nascemos gostando deles. Gostar dos bichos pelos bichos é muito mais que uma “estratégia” para a conservação da natureza: é uma parte de nós mesmos, que pode ser perdida ou não. Podemos, ao longo da educação, perder contato com a natureza - isso é cada vez mais fácil hoje em dia - e desaprender a gostar de bichos. Mas se conseguirmos evitar isso, aceitar nossa própria natureza animal, inclusive a biofilia que é parte importante dela, é um maravilhoso caminho tanto para o crescimento pessoal como para a mudança global.

Não, Truda, você não tem que se justificar por gostar de baleias. Isso é parte da sua natureza, da minha, e da de todos nós. As pessoas têm vidas mais felizes quando respeitam suas próprias naturezas. Não deveríamos precisar de mais nenhum argumento. Completando a citação do Lawton, “... nós não conservamos concertos de Mozart, pinturas de Monet e catedrais medievais por que eles são úteis. Nós os conservamos porque eles são bonitos e enriquecem nossas vidas.” Assim é também para os animais e as plantas, com a vantagem de que quanto à natureza temos também outros argumentos, para os difíceis de sensibilizar. É que, com todo respeito (e admiração) que tenho por Mozart e Monet, nosso futuro depende muito mais dos processos ecológicos da biosfera do que deles.

Não tenho nenhuma ilusão de que estejamos próximos de onde deveríamos estar. No nosso complexo mundo cultural, muitas outras fortíssimas influências, a começar por doutrinas religiosas que nos dizem que a natureza foi feita para nós, competem com a biofilia e nos levam a perder contato com nossas próprias naturezas. Hoje, a maioria das pessoas ainda está mais perto daquele soldado olhando pasmo para o Dersu do que do próprio Dersu.

No Mundo de hoje, enfrentar e resolver os problemas sociais, que causam tanto sofrimento humano à nossa volta, é sem dúvida fundamental. Acho que todo mundo concordaria com a proposição de isso só vai dar certo se o fizermos a partir de uma genuína preocupação com as pessoas, com os direitos de todos nós a vidas dignas e gratificantes. Dito isso, como argumentei acima, e como Diamond e as mudanças climáticas tem mostrado, conservar a natureza é essencial para o bem estar e para a própria prosperidade das sociedades humanas. No entanto, o leitor pode já ter reparado que eu raramente uso a expressão “meio ambiente”. Não gosto muito dessa expressão. A razão porque eu não gosto é que quando se fala em “meio ambiente”, está implícito que nos referimos ao ambiente (“meio ambiente” é pleonasmo) para a nossa própria espécie. Ou seja, o discurso de “meio ambiente” nos deixa presos ao argumento utilitário. Não gosto de depender disso. Para mim é claro que a mesma proposição que fiz acima para os problemas sociais também se aplica à conservação: num Mundo de tantos interesses econômicos e sociais conflitantes, só acredito que seremos bem sucedidos em conservar os animais e as plantas se o fizermos por eles mesmos, pelo direito que eles têm à vida. Não tenhamos uma visão estreita. Conservar a natureza é bom para a gente. Mas como Dersu já sabia, a floresta tem muitas gentes.

Fernando Fernandez

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Lixo ou informação?

Misturam-se com as folhas caídas no chão, com a poeira das calçadas; eles estão em toda a parte! Distribuir panfletos nas ruas se tornou um hábito publicitário bastante adotado entre os empresários.
Sempre que se fala em panfletos, existe uma polêmica. Afinal estes papeizinhos são lixo ou informação?
Ao todo são mais de 45 mil panfletos distribuídos por dia em Votuporanga e com toda esta quantidade o que não falta é panfleto, ou melhor, lixo nos bueiros, ruas e calçadas da cidade. E laia... É isso mesmo! Lixo.
Encontra-se como definição da palavra lixo: materiais sólidos considerados inúteis, supérfluos ou perigosos, gerados pela atividade humana, e que devem ser devidamente descartados ou eliminados. Descartados onde? Na porta da minha casa? Na calçada do meu vizinho?
Lixo porque da maneira que vem sendo destinado como a própria definição diz: “... materiais sólidos considerados inúteis gerados pela atividade humana...”.
A lei municipal 4694, sancionada em 12 de novembro de 2009 no município de Votuporanga, proíbe a distribuição e lançamento de folhetos, panfletos, avisos ou qualquer tipo de material impresso veiculando mensagens publicitárias nas vias e logradouros públicos, bem como a colocação de folhetos em veículos e o lançamento de papel picado em locais públicos. Quando se tratar de divulgação de campanhas institucionais, não comerciais, como campanhas patrocinadas ou apoiadas pelo município, a distribuição de folhetos poderá ser autorizada, desde que solicitada pelo órgão ou entidade interessada e mediante autorização expressa do órgão competente.
O responsável pela fiscalização no município destacou em matéria recente em um dos veículos de comunicação da cidade que as empresas estão cumprindo a lei. “As panfletagens diminuíram bastante. Acreditamos que o impacto ambiental causado pelos papéis que eram lançados às ruas foi um problema que conseguimos resolver de imediato”.
Bom, eu já diria que foi amenizado o problema, mas não resolvido. Ele relata ainda que as empresas já se conscientizaram e estão entregando os panfletos somente nas residências. Pois é, aí que está o problema!
Na legislação sancionada diz que é permitida a distribuição em residências! Ok. Mas de que forma? Trocamos o sujo pelo mal lavado!
Agora se a calçada da minha casa e de toda minha vizinhança não há problema, estamos enrolados! E digo pelo que estão aos meus olhos diariamente onde acredito que não seja implicância minha ou um fato isolado no município.
Enfim, por meio deste breve artigo e meu papel como cidadão e ambientalista, venho alertá-los sobre práticas em nosso município onde não condizem com aquilo que buscamos: a sustentabilidade em meio ao caos ambiental no planeta.
Sabemos sim, que além de ser um método barato de divulgar informações, tem a capacidade de atingir um grande número de pessoas, mas o problema é de que forma isso está sendo distribuído e onde ocorre essa distribuição, há sujeira na rua! Daí fica uma pergunta: O panfleto é um sistema de informação prático e barato, mas será que ele é eficiente?
O panfleto pode até ser a forma mais barata de promover uma empresa ou propaganda, mas não vejo como a mais eficiente, pois a grande maioria das pessoas se sente incomodadas com os panfletários e para não ter que pegar o tal “panfletinho” até se deviam do seu caminho.
Como sugestão aos empresários que desejam se utilizar desse meio publicitário uma opção é a de treinar os contratados e terceirizados na distribuição e a de distribuir nas residências através da caixa de correio ou encartado nos jornais do município. Neste caso a responsabilidade é de cada cidadão, pois cada um é responsável pelo próprio lixo. Não como se vê por aí!
E, diga-se de passagem, que não fui eu quem disse isso! Segundo a Constituição Federal em seu Artigo 225 cita: “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Voto a favor de uma cidade mais limpa, de panfletos devidamente entregues em residências e de uma comunicação ecologicamente correta.

Ricardo Zaccarelli Fº é Biólogo, Pós graduando em Gerenciamento Ambiental pela ESALQ/USP e em Direito Ambiental. Atualmente é Diretor da ECOLOGIC Projetos e Consultoria Ambiental. www.ecologicambiental.com.br

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Presente de grego!

Ás vésperas de comemorarmos o Dia Internacional do Meio Ambiente (05), nossos queridos do norte, os EUA, confirmam o pior desastre ecológico de sua história. Que presente “maravilhoso” para nossa Mãe Natureza!
O vazamento de petróleo no golfo do México há mais de um mês vem fazendo estrago por onde se alastra. O fluxo do vazamento estimado por cientistas do governo e técnicos ambientais, de 2 a 3 milhões de litros de petróleo por dia, fez com que, na semana passada, se confirmasse este desastre maior que o do navio-tanque Exxon Valdez,em 1989, onde despejou 42 milhões de litros no Alasca. Pois é, isso mesmo! Um valor absurdo e difícil de tentarmos imaginar.
Como conseqüência do impacto ambiental, os EUA anunciaram que cerca de 20% das águas oceânicas do país serão fechadas para a pesca e foi acionado um exército de pessoas para trabalhar arduamente visando deter o vazamento de petróleo e proteger a costa norte-americana de uma maior catástrofe ambiental.
Apesar de todo “esforço”, nos próximos dias, a barreira de corais da Flórida, a terceira maior do mundo, poderá ser gravemente danificada pela contaminação dos tóxicos derivados do petróleo e dos dispersantes químicos que estão sendo empregados para combater a expansão do vazamento. Como já dizia meu avô, não adianta agora chorarmos o leite derramado.
Uma coisa é certa! O impacto ambiental ocasionado pelo derramamento de petróleo está aí e “bora lá” remediar.
Como sempre, um dos males da humanidade: remediar antes de prevenir. E laia...
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que o acidente que levou ao vazamento de óleo no Golfo do México serve de alerta para o Brasil. Segundo ela, ainda esta semana, representantes do governo, da Marinha e da Petrobras devem se reunir para avaliar a capacidade brasileira de lidar com esse tipo de emergência.
“O acidente nos Estados Unidos revela a necessidade de uma estratégia de contingência em torno de acidentes ambientais no Brasil”, disse Izabella durante entrevista a uma emissora de rádio durante a semana.
Enfim, a questão que quero colocar não é a de focar no desastre ambiental, a conduta que o governo americano está tratando o assunto, o alerta para nosso país ou até mesmo como a comunidade mundial e mídia vem se comportando frente a isso. E sim, questionar posicionamentos conservadores. O vício do petróleo!
Que me desculpem os defensores da indústria petrolífera, mas não podemos continuar destruindo nossos ecossistemas, fontes de riqueza e sobrevivência de futuras gerações, sem criar clara consciência ecológica e universal dos altos riscos envolvidos diante deste contexto que hoje estamos inseridos.
Seria uma ilusão acreditar que da noite para o dia poderíamos dispensar o combustível dos carros e renunciar ao petróleo como fonte principal de energia.
Mas espalhados pelos quatro cantos do mundo, projetos inovadores utilizam de forma inteligente os recursos naturais, como sol, vento e mar, para mudança de paradigma no uso de energia no planeta. Mais do que uma postura ecologicamente correta ou um ideal sustentável, é uma necessidade!
Isso não é ficção científica ou obra de George Lucas! É tecnologia, ciência e um pouco de boa vontade.
O País vem despontando na produção de energia via fontes alternativas sim. Destaca-se aí o crescimento da geração de energia a partir da biomassa, com o apro¬veitamento de resíduos vegetais, como o bagaço de cana, casca de arroz e madeira. Além disso, o Brasil avança nas pesquisas e projetos pioneiros na produ¬ção de energia eólica e solar.
Sendo assim, a dependência em relação ao petróleo torna-se menor, por conta das energias renováveis. Os benefícios são muitos na geração de energia atra¬vés das fontes renováveis, como a emissão nula ou reduzida de gases de efeito estufa, a diversificação da matriz energética, o que contribui para aumentar a se¬gurança energética, a criação de maiores oportunida¬des de trabalho, com o aproveitamento da biomassa.

Porém, apesar dos investimentos, dos estudos e pes¬quisas desenvolvidos na área das energias alternati¬vas para geração de energia, o Brasil ainda necessita de uma política pública estruturada para garantir uma participação compatível com a dimensão do nosso potencial energético renovável.
Em reportagem publicada na revista VEJA “O melhor exemplo de como a energia verde funciona está na Alemanha. Em oito anos, o país reduziu drasticamente sua dependência do petróleo. Metade da energia solar existente no mundo é produzida lá. O governo alemão não está temeroso diante da crise. O ministro dos Transportes da Alemanha acaba de anunciar incentivos à produção de carros elétricos que devem resultar na produção de 1 milhão de veículos desse tipo no país até 2020.” A energia verde está sendo utilizada e deverá fazer parte cada vez mais de nossas políticas energéticas, porque o século XXI precisa dela.
Exemplos temos, espaço e privilégios de recursos naturais temos. Boa vontade? Hum....
Esperaremos um outro presente? Agora nosso?
Do jeito que anda a coisa meu amigo, dou uma de São Tomé, é ver para crer!

Ricardo Zaccarelli Fº é Biólogo, Pós graduando em Gerenciamento Ambiental pela ESALQ/USP e em Direito Ambiental. Atualmente é Diretor da ECOLOGIC Projetos e Consultoria Ambiental. www.ecologicambiental.com.br

terça-feira, 25 de maio de 2010

Biodiversidade. É de comer?

A Assembléia Geral das Nações Unidas (ONU) declarou o ano de 2010 como o Ano Internacional da Biodiversidade, com o propósito de aumentar a consciência sobre a importância da preservação da biodiversidade em todo o mundo.
Sábado passado (22/05), comemorou-se também o dia mundial da Biodiversidade. Mas afinal, o que é Biodiversidade?
Na verdade não há uma definição consensual do que é biodiversidade , mas o termo refere-se a quase uma totalidade de definições a toda e qualquer variedade do mundo natural e sua riqueza.
Os cientistas não sabem responder qual é a biodiversidade mundial. Na verdade não se tem qualquer informação sobre este valor. Admiti-se que o número de espécies biológicas no planeta esteja entre 2 a 80 milhões. Pois é. Isso mesmo! Não conhecemos nada ainda.
Cada uma dessas espécies é o resultado de milhões de anos de evolução orgânica, representando assim, um patrimônio genético de um valor inestimável.
Milhares de espécies de vegetais e animais são utilizadas pelo Homem na alimentação, na produção de energia e trabalho, na produção de remédios e vacinas.
A filosofia conservacionista não é altruísta, mas egoísta, pois pensa sempre na preservação das espécies para futuros usos da humanidade, preocupando-se sobretudo com a sobrevivência do Homem. É o nosso antropocentrismo dominante. E laia!
Em um vegetal qualquer da Floresta Atlântica ou Amazônica não estaria a cura do câncer? Em um pequeno macaco destas florestas não poderia ser desenvolvida a vacina contra a AIDS?
Quantos defensivos agrícolas serão desenvolvidos com o auxílio da biodiversidade? Quais as doenças novas da humanidade do futuro que terão suas curas nos elementos da natureza?
O Homem vem destruindo a biodiversidade há cerca de 7 mil anos. Muitas espécies de animais e vegetais já desapareceram e não poderão jamais ser recuperadas. Extinção é pra sempre!
As florestas tropicais são responsáveis pela maior biodiversidade mundial. O Brasil, detentor da maior floresta tropical úmida, é considerado como o país mais rico do mundo, pois a biodiversidade é ponderada hoje, principalmente pelos países desenvolvidos, como a maior riqueza da Terra, pois é a matéria prima da Biotecnologia.
Entretanto, as florestas tropicais do planeta estão sendo inutilmente destruídas, buscando-se lucros imediatistas, sendo substituídas por pastagens que duram poucos anos além de acarretarem outros sérios problemas ambientais.
Bom, agora que sabemos da existência dessas datas comemorativas, do que realmente significa o termo biodiversidade e na minha humilde e modesta tentativa de uma reflexão, fica apenas uma pergunta.
Até que ponto essa política desenvolvimentista acima de tudo e todos se sustentará diante de um planeta que clama por respeito?

Ricardo Zaccarelli Fº é Biólogo, Pós graduando em Gerenciamento Ambiental pela ESALQ/USP e em Direito Ambiental. Atualmente é Diretor da ECOLOGIC Projetos e Consultoria Ambiental. www.ecologicambiental.com.br

segunda-feira, 24 de maio de 2010

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